A garota entra em delírio porque a cachorra está com um baseado gigante na boca. Não demora muito para então o animal virar atração das pessoas que se aglomeram em plena Rua XV de Novembro para a 11ª Marcha da Maconha de Curitiba. De longe os policiais apenas observam a crescente movimentação de maconheiros que vai aos poucos tomando conta do calçadão. “Tá legalizado? Não tá! Mas pra hoje vamos ter que ficar só controlando a movimentação” diz o policial.

O cheiro de maconha vai se alastrando pelo centro. Por todo lugar, gente dichavando, bolando, fumando e passando um baseado. Bondade dos cosmos por ter dado sol a aquele sábado de outono; beck molhado por conta de chuva deixa qualquer maconheiro desanimado.

O bloco BatuCannabis começa a ajeitar os instrumentos e logo dá as primeiras batidas no surdo. Mais à frente, os militantes se posicionam com faixas e cartazes. “Vamos legalizar galera!” grita um dos organizadores do evento. Vai chegando perto da hora do início da marcha. Jornalistas e fotógrafos registram com fotos e vídeos os maconheiros se organizando. Eis que “Beeeeeeeh”, a buzina do megafone do organizador avisa às milhares pessoas ali presentes que é hora de marcha. “Deu quatro e vinte!”.

Juntar milhares de maconheiros pode ser complicado. É cada um com seu baseado, uns com prensado fraco, outros com murruga forte. Alguns mais chapados, outros menos. A sequela atinge os manifestantes assim que a marcha sai da Boca Maldita. A caminhada segue um tanto quanto desarmoniosa, por conta do passo lento de alguns, mas logo toma ritmo, e o povo de Curitiba vira plateia do movimento canábico. “Se você pensa que maconha mata/ Maconha não mata não/ Maconha vem da natureza/ Quem mata é a proibição.”

É claro que a Marcha recebe muita cara feia à medida que passa pelas ruas apertadas do centro de Curitiba. A fumaça, que pode ser vista de longe como uma grande nuvem, chega até os prédios e entra nos apartamentos. No alto, os velhos fecham as janelas e fazem um gesto de mal cheiro para os maconheiros na rua.

A Marcha da Maconha é apenas a marofa de um baseado, que pode ser sentida e causar um leve efeito nas pessoas ao redor, mas sem dar todo o barato de um trago. Com cada vez mais usuários saindo do armário e se engajando por uma mudança da lei de drogas, mais forte vem se tornando a pressão em cima do governo. Não dá para ficar fumando maconha no sofá da sala enquanto assiste Cheech Chong e come pizza. Tem que fazer a cabeça na rua e gritar “Ei Polícia, Maconha é uma delícia!”.

Assim que a noite cai, a marcha chega ao seu ponto final, na frente do Palácio do Iguaçu, sede do governo do estado. A luz das motos dos policiais que protegem o palácio evidencia a fumaça que cerca o aglomerado de pessoas. O pessoal da BatuCannabis continua fazendo barulho, enquanto alguns manifestantes se revezam para lançar discursos de ordem. “Se manifestar à favor da legalização da maconha é se manifestar pela liberdade de você fazer o que quiser com seu corpo. O corpo é seu! Ninguém tem o direito de dizer se você pode ou não usar maconha!”.

A paz está presente na cabeça de quem quer fazer o bem e fumar maconha. A Marcha da Maconha põe em cheque um estereótipo que precisa ser quebrado, e prova como um grupo visto como marginal pela sociedade pode ter uma conduta pacífica mesmo sob o efeito de uma substância psicoativa. Não dá mais para viver com ideias antiquadas. O sinal está verde, e a gente precisa seguir em frente.

Por Francisco Mateus

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