Foi logo após o trampo. Saí da redação do jornal onde trabalho naquele momento da tarde quando o céu começa a escurecer e as estrelas se revelam. Antes de ir ao bar tomar uma cerveja, parei em uma pequena praça, com um banco e um busto de alguma figura histórica importante, e lá me acomodei para fumar um baseado.

Estava tendo uma pira deliciosa, apenas observando a chegada da noite e sentindo a brisa curitibana. Após queimar todo o baseado, joguei a ponta que restou fora. Assim que a ponta caiu na grama, uma forte luz surgiu bem em minha frente, como se uma granada de flash tivesse explodido.

“Caralho maluco, que porra é essa!?” gritei ao se quase ser cegado pela luz. Fiquei imóvel, e assim que abri os olhos, fui surpreendido por uma figura feminina, que me encarava com uma ternura até então inédita para mim.

Estava de boca aberta. “Oi Francisco.” disse a mulher. Me espantei com o fato da figura saber o meu nome. “Farei o que você quiser, desde que minha memória não seja apagada, por favor” disse à ela. “Do que você está falando?” respondeu a mulher sem entender o que eu estava dizendo. “Você é uma alienígena! Você veio me buscar para fazer experimentos dentro da sua nave espacial!”.

“Se acalme, vim até você porque tenho uma mensagem”. Me decepcionei porque de certa forma eu queria dar um rolê de nave espacial; mas decidi ouvir o que a figura tinha a me dizer. “Eu sou a Santa Maria Joana, fui mandada por Deus para vir à terra avisar que a raça humana corre perigo se continuar proibindo o uso da cannabis”.

O papo ficou louco. “Por que eu nunca ouvi falar de você? Nenhum padre chegou sequer a falar de você, nem mesmo o papa.”. Na minha cabeça, maconha era até então algo que a religião abominava. “Quem não fala de mim são os homens. No céu, a Cannabis é uma planta sagrada, e  se os homens continuarem proibindo seu uso, a raça humana poderá deixar de existir”. Fiquei assustado com tal revelação.

“Como a raça humana deixará de existir com a proibição?” perguntei a ela. “Isso não vem ao caso. O que eu peço a você, é que acabe com a ideia errônea que as pessoas têm sobre a maconha.”. “E como farei isso?”. “ Você encontrará duas pessoas que te darão as ferramentas necessárias para espalhar o culto à cannabis. Use seu dom com as palavras.”.

Estava quase convencido com tudo aquilo que a Santa me falou, mas faltava uma prova de que aquele papo não era zoeira. “Ok, mas como eu posso saber que tudo isso que você está falando é verdade e que você realmente é uma Santa?”. A mulher se agachou, pegou a ponta que eu havia jogado fora e apertou ela com as duas mãos. Assim que elas se abriram, o baseado estava inteiro novamente.” Uou, isso sim é um verdadeiro milagre!”.

“Você sabe o que fazer daqui para frente. Boa Sorte.”. E em um piscar de olhos, a Santa sumiu. Fiquei paralisado, tentando entender tudo aquilo que tinha acontecido. Pode ser que de fato tudo aquilo que eu vivi tenha sido verdade, mas também poderia ter sido uma brisa forte de maconha. Deixei a praça e fui ao bar beber.

Na semana seguinte, fui ao Largo da Ordem acompanhar o ensaio da Batucannabis. Lá havia dois rapazes distribuindo exemplares da revista Maconha Brasil. Logo comecei a trocar ideia com os malucos. Falei que era jornalista e fumava maconha. Então, veio o convite. “Ei, você não quer escrever para o nosso blog?” me perguntou um dos rapazes que usava dreadlocks e toca. “Pô, eu adoraria. Qual é o nome do blog de vocês?”. “Se chama DaBoa Brasil. Dê uma olhada lá!”.

Fui para casa com a ideia na cabeça. Alguma coisa me dizia que seria uma boa escrever para os caras. E assim, nasceu a coluna de Francisco Mateus no blog DaBoa Brasil.

 

Pin It on Pinterest

Shares