Quando falamos em legalização da maconha, não estamos falando apenas do seu tradicional uso milenar como parte da medicina. Também não estamos falando apenas em sua capacidade em ser a matéria prima para milhares de produtos ecologicamente sustentáveis. E principalmente, não estamos apenas falando do mercado bilionário que envolve os diversos usos dessa planta. Falamos também sobre o seu uso social e do poder da planta em transmitir harmonia e união entre aqueles que a consomem. Mas no Brasil não são todos que pensam dessa forma e, para alguns, o deus dinheiro parece falar mais alto.

Após pouco tempo da regulamentação feita por parte da Anvisa, que permite apenas o uso de produtos derivados da planta com o máximo de 0,2% de THC (uma clara vitória da indústria farmacêutica, lembrando que o cânhamo naturalmente possui máxima de 0,3%), ficou nítido o interesse de vários profissionais e instituições que levam o nome da erva.

Fica ainda mais claro perceber esse interesse, quando ouvimos dessas partes argumentos que insistem em demonizar o uso da maconha para fins recreativos, apoiando apenas “fins medicinais” e ignorando todos os outros usos que envolvem a planta, seja cultural, espiritual e religioso ou social.

O mais contraditório é saber que a maioria dos atuais profissionais da cannabis no país, clínicas de prescrição, associações de pacientes e famílias que já possuem o direito ao cultivo, só conseguiram tal conhecimento devido aos ensinamentos de cultivadores e ativistas que estão na luta há vários anos pela real liberdade da planta. Ou seja, se hoje existem mães e pais que sabem extrair com excelência o óleo que salva a vida de seus filhos, certamente devem agradecer a dedicação de um jardineiro ilegal que compartilhou suas experiências mesmo sabendo do risco que é fazer justiça com as próprias mãos em um país proibicionista.

Enquanto houver apenas a defesa do uso medicinal, usuários continuarão sendo perseguidos e cultivadores, que são os grandes responsáveis por tantas vidas salvas, continuarão sendo presos e julgados como traficantes. Isso é justo? Também devemos nos perguntar se é justo proibir o acesso ao cultivo de todas as pessoas que sofrem de ansiedade, depressão, insônia e estresse, sendo esses os grandes males da sociedade atual e tendo em vista que alguns poucos no Brasil que sofrem das mesmas condições já possuem o direito de plantar, e por qual motivo devem ser obrigados a colocar o nome em uma lista de controle? Será que existe realmente uma boa vontade em âmbito geral para que todos possam se beneficiar da maconha ou isso será só para quem conseguir bancar?

Não devemos esquecer que estamos falando de uma planta! Uma planta com milhares de anos de uso por diversas culturas e tradições. Uma planta que, tendo as condições básicas para viver, nasce e cresce independente de legislação ou grandes investimentos. Ela vem da terra e, com o mínimo de conhecimento, pode ser cultivada gratuitamente. Talvez seja esse um dos medos das grandes indústrias que tanto lucram com o sofrimento alheio. O que seria das prateleiras das drogarias se cada cidadão pudesse ter o remédio nascendo no quintal?

Deveríamos parar de utilizar os rótulos “medicinal e recreativa”, isso dá a ilusão, aos que não conhecem do assunto, que estamos falando de plantas diferentes. Além de criar brechas para oportunistas persuadirem quem não entende do tema. Deveríamos chama-la pelo nome: maconha. Afinal, todo uso é terapêutico e toda planta de cannabis é uma medicina natural.

Com tantas barreiras segurando a descriminalização e tantos interesses que existem por trás da atual regulamentação, o futuro é incerto. Mas ainda acreditamos e lutamos por uma lei verdadeiramente justa para todos os usuários e cultivadores no Brasil. Ainda acreditamos e lutamos para que as flores vençam os canhões da guerra às drogas, como deveria ser.

Por Diego Brandon
Ativista e idealizador do portal DaBoa Brasil

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